Diretor: Sebastião Lima
Diretora Adjunta: Carla Félix
Últimas Notícias

Dentro das festas de verão na ilha Terceira encontramos uma realidade que é distinta do bodo dos domingos de Pentecostes e da Trindade, sem deixar de o ser, a que se chama bodo de leite. O bodo de leite pertence às festas do Espírito Santo? Como bodo sim, sendo de leite não. O termo «bodo» vem do latim votu, voto, que ainda em finais do século XIX nos Açores de escrevia «vôdo», que quer dizer promessa, oferenda, desejo, dom, dádiva, graça, algo dado e que se faz de vontade própria, um compromisso de consciência. Ao sujeito que deseja ou cumpre o voto chama-se devoto. (de – voto).

Gil Vicente, em 1518 - já as festas decorriam nos Açores - no Auto da Barca do Purgatório, põe o anjo a perguntar ao lavrador: «Que bens fizeste na vida que te sejam cá guiantes?» ao que este responde: «Ia ao bodo da ermida, cada santa Margarida, e dava esmola aos andantes, benzia - me pela menhã, levava o Credo até ao cabo». Ora aqui temos quatro elementos: bodo, esmolas, bênção e credo como bens nesta vida com destino à eternidade. Quando mais nada se diz, o bodo é composto de pão, que pode ser acrescido de vinho e de carne, e está na raiz das festas do Espírito Santo nos Açores desde o último quartel do século XV.

O bodo de leite é uma realidade bem mais moderna que se enquadra também na cultura agrária, no meio rural, mas por ocasião das festas de verão ou patronais. Na ilha Terceira, o domingo da festa é dedicado ao Santíssimo Sacramento, em cuja procissão não vão imagens, ao Coração de Jesus ou a Nossa Senhora; a segunda-feira normalmente é dedicada a Santo António, a terça-feira a Santo Antão, com os animais, o gado e os seus criadores. As touradas à corda normalmente vão da quarta-feira ao sábado da festa em cada freguesia.

Por ocasião da visita régia de Dom Carlos e Dona Amélia à ilha Terceira nos primeiros dias de julho de 1901, realizou – se a maior exposição ou feira de gado, como diríamos hoje, que até então se fez, na bacia leiteira ou «manta de retalhos», na Achada, na planície entre a serras do Cume e da Ribeirinha, perto de onde foi construído o primeiro campo de aviação (1930) na ilha. Aliás, no discurso que deu origem ao livro «O mês de Sonho» (maio de 1924), José Leite Vasconcelos refere uma «exposição pecuária» quando visita os Arrifes, em São Miguel, mas não se refere ao bodo de leite, em maio ou junho desse ano.

Inspirados no acontecimento da dita visita régia de julho, no mês de setembro desse ano de 1901, depois da tourada da segunda-feira da Serreta (a seguir ao 8 de setembro), os lavradores daquela freguesia combinaram entre si trazer as suas vacas para o largo da igreja para as apresentarem, não agora aos reis portugueses, mas aos visitantes da cidade de Angra que ali peregrinavam para a festa de Nossa Senhora dos Milagres e aí mesmo as ordenharem e distribuírem o leite, como forma de agradecerem e brindarem os presentes e visitantes.

Segundo Carlos Enes e Luiz Fagundes Duarte assim aconteceu, tendo comparecido na 3ª. feira, dia 10 de setembro de 1901, 75 vacas, permitindo a distribuição de 1400 copos «de leite quente e espumoso». Nascia assim aquilo que ainda hoje chamamos de bodo de leite, dado que as freguesias vizinhas começaram a replicar a prática no ano seguinte.

Essa é a razão por que nos Açores não se faz o bodo de leite por ocasião das festas do Espírito Santo, salvo algumas exceções nas cidades, mas sim nas festas patronais de verão. Esta exposição de gado, ou «Revista Pecuária» como os jornais da época lhe chamavam, evoluiu para uma pequeno cortejo processional, realizado durante a manhã (período da ordenha), em que a imagem de Santo Antão sai da igreja paroquial e o pároco abençoa os animais e os seus criadores em cada ano. A filarmónica local encerra o cortejo e depois anima o arraial de rua, durante o qual se faz a distribuição de leite quente acompanhado de massa sovada fresca preparada na localidade.

Ao modo de «revista pecuária» foi-se acrescentando outros elementos para exposição, ora mais antigos ora mais recentes, com usos e costumes locais, a que se passou a chamar cortejo etnográfico ou alegórico, uma vez que não é o público que se desloca, mas sim as cenas móveis que percorrem o arraial.

Por aqui ficamos, quando no próximo ano se comemora 125 anos de bodo de leite na ilha Terceira, ficando o desafio para que os investigadores vejam a forte evolução de fenómeno, de 1901 até ao presente.

Helder Fonseca Mendes

A nossa viola da terra é um instrumento estimadíssimo, de grande valor patrimonial e sentimental. Tocada por muitas mãos, umas mais talentosas, embora rudes pelo trabalho duro do dia a dia, outras, mais finas e delicadas de uma juventude habilidosa, foi-se desgastando, desafinando, perdendo uma cravelha aqui, uma corda ali.

A nossa viola foi cara. Mas é boa. De madeira fina e resistente, com boa sonoridade, dizem os que se lembram de a ouvir tocar nas mãos certas, no tempo em que tinha as cordas todas e estava afinadinha que consolava a alma.

É normal, que com o tempo, a nossa viola precise de uma peça nova, muito cuidado e limpeza regular, e pequenos ajustes na afinação. O que não se pode fazer num instrumento que nos é querido, é substituir uma ponte por um cavalete, uma barra acústica por uma ilharga ou uma cravelha por um parafuso. Também não se pode dispensar as cordas que são menos usadas. Uma viola de quinze cordas não deve tocar só com doze, porque deixa de ser o que é. Quando se tiram cordas, as outras desafinam-se imediatamente. E há sempre música que precisa das cordas todas.

Uma viola é um instrumento complexo. Formado por muitas peças, madeiras, colas, vernizes e outros materiais. Quem tiver na oficina a melhor equipa de mestres, conseguirá o melhor instrumento. Se esperarmos muito tempo, a reparação sairá muito mais cara ou, pior ainda, dar-se como irreparável. O investimento não pode correr esse risco.

A minha música precisa sempre das cordas todas. Precisa de uma viola com a boca aberta ou com os dois corações a bater a compasso e de ser afinada todos os dias e duas vezes ao domingo. E vai precisar de todas as violas em conjunto. Porque juntos vamos mais longe. A nossa música ajudará a dar vida e movimento cultural em todo o concelho da Praia da Vitória. Ajudará a derrubar fronteiras, antigas e novas, pois a nossa cultura está integrada numa cultura maior, europeia, para a qual contribuímos e essa também tem de chegar até nós.

Para terminar, penso que o discurso figurativo é sempre mais rico do que o literal, porque dá asas à imaginação e ao espírito criativo, que tanta falta nos faz. Mas há quem não goste de alegorias. Querem uma mensagem mais direta e literal. Vamos a ver se sou capaz:

Marco Martins é o candidato da mudança na Praia da Vitória. A maior promessa que faz é não falhar perante as pessoas. Fez-se rodear por uma equipa competente em cada área, com provas no currículo e no dia a dia, da qual muito me orgulho de fazer parte. A Praia da Vitória precisa de nós.

Mais direto ainda? O Futuro É Agora. A Praia não pode esperar. Votem PS. Votem em Marco Martins.

Antero Ávila
(Candidato a Vereador pelo PS à CMPV)

Foi com um misto de surpresa e alegria que recebi o convite para fazer parte do projeto “Acreditar na Praia”, liderado pela Vânia Ferreira, candidata a mais um mandato como Presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória. Aceitei, digo desde já!

Surpresa porque, muito sinceramente, não estava nada à espera. São conhecidas as minhas posições relativamente ao mandato que agora termina. Crítico, talvez ainda mais do que a oposição, tenho manifestado publicamente o que fui discordando das medidas, atitudes e iniciativas da gestão camarária praiense. Sou militante do PSD há algumas décadas e fui mandatário da candidatura há quatro anos. Apesar disso, também o tenho referido, não deixei de pensar. Não deixei de ter uma opinião sobre os assuntos, em particular sobre o que ao concelho onde resido diz respeito. Fi-lo durante doze anos na Assembleia Municipal, na oposição, e, não foi por o meu partido ter assumido o poder, que os problemas deixaram automaticamente de o serem, nem o condenável noutros tempos, passou a ser aceitável. Sou crítico, é da minha natureza, como alguém haverá dito. A Vânia sabe disso. Sabe ao que vem. Convidar um crítico é um ato de coragem. Em primeiro lugar, perante os próprios militantes do partido. Depois, porque, conhecendo-me, sabe que lhe direi o que tiver para dizer, sem rodeios, sem fazer de conta que está tudo bem, quando não estiver.

Coragem, por parte da Vânia, é algo que, apesar de tudo, não nos deveria surpreender. Este mandato é disso exemplo. Aliás, sem essa coragem férrea, muitas vezes confundida com teimosia ou frieza, talvez tivesse desistido a meio. Foram tempos difíceis. Era urgente arrumar uma casa desgovernada, falida, muitos vezes sem saber se era possível pagarem-se os salários, sem rei nem roque, à mercê de uma herança não desejada por ninguém. Por vezes, ouvindo o que agora por aí se vai dizendo, parece que tudo estava bem. Esfalfam-se para nos fazerem acreditar que a Câmara da Praia gozava de boa saúde. Não, não gozava de boa saúde. Gastava-se o que se tinha e, principalmente, o que não se tinha. Digo-o agora, disse-o na altura. Esfalfam-se para nos fazerem acreditar que todos os males da Praia foram criados agora. Não, não foram criados agora. Tenho até dificuldade em apontar os problemas que surgiram de novo. Ao invés disso, peço-vos, isso sim, que se esfalfem para dizerem a verdade aos praienses. Para contarem a história tal qual ela foi. Para assumirem as responsabilidades que vos cabem. Não façam de conta que só agora chegaram. Não, não chegaram agora. Sim, também lá estavam. Antes de falar do futuro, convém esclarecer o passado. E tanto que ainda há por explicar…

Fiquei contente com o convite. Quem acompanha a minha escrita, sabe que tenho dedicado muito do meu tempo a estudar a Praia, a compreendê-la, a analisar a sua história e o seu passado. Tenho procurado entender o presente e definir o que é isto de se ser praiense, que anseios, que ambições, que futuro pode existir para este território fundado há quase seiscentos anos ao redor da baía onde o Sol nasce. Faço-o porque acredito na Praia, preocupo-me com a Praia, acredito no seu futuro e quero ajudar a construí-lo. Sim, eu acredito na Praia e acredito na coragem da Vânia para que agora, com a casa arrumada, agora que voltámos a ser credíveis perante os nossos pares, a banca, os fornecedores e os praienses, possamos com coragem, responsabilidade e determinação, construir uma cidade e um concelho onde apetece viver, onde se queira constituir família, onde se viva ao melhor estilo praiense. Sabemos bem o que isso é. Que forma de estar na vida é essa e ninguém, mesmo ninguém, nos fará mudar. Ser praiense, é acreditar nesta terra. Ser praiense, é acreditar na Praia!

Paulo Jorge Ribeiro

Acerca do Jornal da Praia

Este jornal é um quinzenário de informação geral que tem por objetivo a divulgação de factos, opiniões, debates, ideias, pessoas, tendências, sensibilidades, em todos os domínios que possam ser importantes para a construção de uma sociedade mais justa, livre, culta, inconformada e criativa na Região Autónoma dos Açores.

Este jornal empenha-se fortemente na unidade efetiva entre todas as ilhas dos Açores, independentemente da sua dimensão e número de residentes, podendo mesmo dar atenção primordial às ilhas de menores recursos, desde que tal postura não prejudique a implantação global do quinzenário no arquipélago dos Açores.

Área do assinante