Para o desejado sucesso do futuro “forum” impõe-se, pois, uma escolha criteriosa dos palestrantes, que deveriam emergir, nomeadamente, da sociedade civil, e as conclusões dos trabalhos, incluídas num livro para maior divulgação, nos meios de informação audiovisuais e sobretudo na imprensa.
Quem teve a ocasião de ler o que escrevemos no nosso livro «Varanda de Paris e nas nossas crónicas deste quinzenário, desde 1990, saberá o que pensamos sobre as faltas de cumprimento dos agentes da nossa autonomia, maltratada pelos sucessivos governos, durante os 44 anos de (des)governação do arquipélago. Quanto às responsabilidades do sucedido elas recaem sobre os partidos que não a souberam cultivar, com visão regional, plural, abrangente e de futuro.
Em 1992, a coligação Aliança Democrática dos Açores (A.D.A,), a cujos pressupostos muitos açorianos aderiram, visava fazer uma necessária reversão na caminhada, ora em curso. Porém, o eleitorado pouco esclarecido não compreendeu, então, o alcance da alteração pretendida com o fim de pôr termo ao nefando crescente centralismo que, com a entrada do P. S. na administração das ilhas, ainda mais se acentuou com as inevitáveis consequências daí decorrentes.
Recorde-se que a anteceder a sua entrada como responsável dos destinos da dita região autónoma, houve a criação dos ”Estados Gerais”, nos quais minha mulher e eu participámos, a convite do referido partido. Contudo, no final das contas de pouco serviu, a não ser para a auscultação e recolha de sugestões e ideias, esquecidas quase por completo no termo da 1ª. Legislatura, e na seguinte, já com maioria absoluta socialista, foram totalmente postas na gaveta tal como o socialismo apregoado havia sido.
Chegados a 2020, surge a ansiada reviravolta no xadrez político regional, resultante das últimas eleições de 25 de Outubro passado. Agora, começa a esboçar-se novamente a necessidade de organizar um ”forum” para reflexão e revisão da Autonomia Regional dos Açores.
Algumas opiniões têm já aparecido nos órgãos de comunicação e em livro, como o que foi recentemente publicado pelo Instituto Açoriano de Cultura (I.A.C.), da autoria de Álvaro Dâmaso, antigo Secretário Regional das Finanças, intitulado “Autonomia Política e Razão de Estado—Quinhentos anos de Antinomia”, o qual lemos com redobrada atenção e interesse. A ele voltaremos noutra altura.
Da Experiência que recolhemos de antigas iniciativas similares, é de criticar o excessivo peso informativo meramente teórico das comunicações, bem como a pouca ou nenhuma incidência nos aspectos concretos da realidade das ilhas e nos problemas sentidos pelas populações das nove parcelas do arquipélago. Além disso, são abordados, numa linguagem por vezes esotérica ou demasiado técnica, aspectos exógenos (exteriores), alguns mesmo acessórios, preterindo-se a necessária concretização das políticas e modos de operar dos mesmos, e as suas consequências geográficas, locais ou insulares.
Um exemplo bem elucidativo e preocupante tem sido, e continua a ser, a exagerada sobrevalorização das questões da geopolítica, que tem levado muitos analistas e técnicos a menosprezar factos considerados menores, por ocasião de conversações bilaterais com os EUA, e que nos dias de hoje constituem um quebra-cabeça para os delegados e um grave perigo para a população da Ilha Terceira, especialmente para os habitantes do concelho da Praia da Vitória.
Actualmente, ainda reina, tardiamente é certo, alguma indignação e revolta pelo que não foi acautelado no devido tempo. Os poucos corajosos (um paradoxo em terra de bravos) que ousaram pôr o dedo na ferida, não foram ouvidos, e perante as bem localizadas contaminações, há inda hoje, alguns técnicos e especialistas receando ser ameaçados, por causa das suas denúncias.
Para o desejado sucesso da futura iniciativa impõe-se, pois, uma escolha criteriosa dos palestrantes, que deveriam emergir, nomeadamente, da sociedade civil, e as conclusões dos trabalhos, incluídas num livro para maior divulgação, nos meios de informação audiovisuais e sobretudo na imprensa.
Essas preocupações contribuirão para evitar gincanas parlamentares a certos deputados, pouco habituados ao diálogo civilizado e disciplinado de que são useiros e vezeiros, pensando erradamente que são os únicos donos da verdade, nos espaços dentro e fora do parlamento, onde muito e muito falam, mas por vezes pouco ou nada dizem, com acerto e respeito por eles próprios e pelos outros, entre os quais os ouvintes, como ficou bem patente num recente debate na rádio oficial, para a qual pagamos obrigatoriamente todos os meses uma taxa de radiodifusão.
Haja maneiras, respeito e consideração pelo cidadão pagante e votante que os sustenta, como deputados e comentadores.
António Neves Leal