Iniciámos este ano de 2021 com eleições para a presidência da República Portuguesa, no meio de um contínuo estado de emergência, entre restrições e confinamentos. Felizmente, nós por cá, entre alguns sustos vamos conseguindo viver alguma liberdade. Por falar em liberdade (ou falta dela…) e voltando à Democracia (ainda que com direitos “confinados”) gostaríamos de deixar aos nossos leitores apenas alguns números e considerações.
Votaram pouco mais de quatro milhões duzentas e sessenta mil pessoas, ou seja, menos de metade dos eleitores resultando numa abstenção superior a 50%. Nada que seja de admirar tendo em conta as percentagens de abstenção das eleições em Portugal. Continuamos a ter uma democracia em que o voto de metade da população gere o destino da outra metade e isso não é bom. Não é bom porque permite que minorias bem organizadas consigam maiores percentagens de votos, não é bom porque revela um sistema democrático “adoentado” e sobretudo porque metade dos Portugueses (salvo casos de impedimento maior) toma a decisão de não votar, e, consequentemente, deixa que sejam os outros a decidir por eles. Votem! Pela vossa liberdade, pelas vossas convicções, votem em quem entenderem, mas votem!
Sem surpresa ganhou com cerca de 60% dos votos Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente segue num segundo mandato sem ter sentido grande oposição, apesar de se ter revelado demasiado ausente, conivente ou, quiçá, eleitoralmente calculista. Mas nem isso prejudicou a sua imagem e os seus votos. Talvez agora, que já não há mais mandatos a ganhar, se torne realmente no presidente que Portugal precisa desesperadamente.
A extrema-esquerda sai derrotada e nem os votos juntos dos candidatos apoiados por PCP e BE davam o terceiro lugar (ainda que isso pouco interesse nestas eleições). O candidato liberal reclamou sucesso, mas apenas teve mais 12 mil votos que “Tino de Rãs” (Vitorino Silva). De realçar que nem com os votos de Ana Gomes a esquerda chega a 1 milhão de votos, portanto menos de metade dos votos de Marcelo. Também é verdade que o governo liderado pelo partido socialista muito contribui para isso, ao não apoiar uma candidata do seu espectro político. Aliás fica a pergunta no ar: Porquê?
Ana Gomes, que corajosamente enfrentou o aparelho do PS e se apresentou como candidata, ficou em segundo lugar com 540 mil votos. Tendo em conta uma certa cumplicidade entre o governo e a presidência da república poder-se-á considerar que não foi um mau resultado, especialmente para quem defende publicamente o “whistleblower” Rui Pinto, o que mexe com um dos tabus em Portugal (a potencial corrupção generalizada do futebol em Portugal). Goste-se ou não, a socialista tem sido das vozes mais incómodas e irrequietas ligadas ao sistema político.
No último lugar do pódio ficou André Ventura apoiado pelo partido CHEGA com perto de meio milhão de votos. Até à última houve dúvidas sobre quem ficaria em segundo lugar, e ainda que do ponto de vista eleitoral isso se tornasse irrelevante (pois tudo se decidiu à primeira volta), não é menos verdade que é um resultado interessante para um partido recém-criado. A alta percentagem de votos obtidos pode ser outro sintoma do tal sistema democrático “adoentado”. Muitas pessoas estão cansadas e desiludidas com o país em que vivem. Muitos dos votantes (se não a maioria) não são fascistas ou racistas, serão apenas politicamente desiludidos. O Alentejo, tradicionalmente de esquerda, votou André Ventura em segundo lugar!
Cabe aos partidos encontrar as soluções para acalmar um certo populismo, e em vez de chamar fascistas a 500 mil Portugueses (fora os que nem foram votar), que arranjem propostas, rumos, soluções para um país endividado, sem oportunidades de emprego (e os que o tem geralmente não têm progressão), com uma classe média cada vez mais empobrecida e carregada de impostos, com sucessivas gerações a crescer num clima de dependência dos empregos do estado, em que o sucesso profissional depende (muito) mais das afiliações politicas do que da competência. A subida do ordenado mínimo, ainda que necessária, empurra anualmente milhares para a classe média baixa, onde se situam muitos dos jovens casais que Portugal precisa desesperadamente que trabalhem, comprem casa, tenham filhos, gastem e invistam na economia. Mas como com ordenados líquidos de 800, 900 ou 1000 euros?
Jornal da Praia não podia conscientemente deixar de realçar este aviso dos eleitores aos partidos, ditos do sistema: Ajudem as pessoas a não votar em extremos!
Despedimo-nos com o sincero desejo que os números de COVID continuem a baixar e com um especial abraço aos Micaelenses, que dos ilhéus são os que mais têm sofrido com este vírus. E terminado o assunto, encerramos este monólogo, e, mesmo sem palcos de Carnaval, fechamos o pano com a certeza que ele voltará a abrir. A todos vós, aquele abraço Praiense!
Luis Moniz, Diretor Adjunto
