Jornal da Praia (JP) – O restaurante “O Pescador” é já um ponto de passagem na cidade da Praia da Vitória. Quando é que foi criado?

José Costa (JC) – Este ano, o restaurante faz 35 anos. Abriu em 1989.

Foi um negócio criado de raiz por um casal de Sesimbra, o senhor António e a senhora Gabriela Ruivo que numa viagem aqui às Festas da Praia, andavam a vender sapateias e outros mariscos, acabaram por gostar da Praia da Vitória, ficaram, acabando por então criar este restaurante.

Nos primeiros tempos de funcionamento, abriram uma parte do restaurante apostando numa área da restauração mais marisqueira e depois abriram a outra mais variada. Foram proprietários deste restaurante cerca de 10 anos, até 1999, altura em eu comprei o restaurante.

Quando adquiri, tive a preocupação de não alterar nem inovar dado que “O Pescador” já era considerado uma referência na restauração dos Açores. Isto, porque, os primeiros donos desenvolver um conceito de restauração já inovador para a época, mesmo a nível Açores. Introduziram pratos e maneira de servir inovadoras fez com que o restaurante “O Pescador” fosse conhecido em toda a região, chegando a vir até pessoas de São Miguel cá à Praia da Vitória para comer no restaurante.

Os primeiros proprietários apostaram no marisco e no peixe porque o senhor António possuía também uma traineira que abastecia assim o restaurante. Apostavam no peixe na grelha e possuíam aquários com marisco vivo.

JP – Na página do Tripadvisor pode ler-se vários comentários sobre o restaurante. O comentário “Espaço excelente e muito bem decorado! Atendimento e ambiente excelentes. Funcionários muito simpáticos e colaborantes! Almoçamos o atum e a cataplana de peixe/marisco e posso dizer que estava muito boa! Dos bons restaurantes que os Açores têm!”, é um dos exemplos. A que se deve este sucesso?

JC – O sucesso deve-se principalmente porque “O Pescador” manteve sempre consistência no serviço, nos pratos e na qualidade oferecida. Isto é imprescindível neste tipo de negócio. Mas, esse sucesso deve-se também à equipa que aqui trabalha. Nestes 35 anos, já passaram bastantes pessoas, gerações que aqui já trabalharam, dando sempre o seu melhor, dependendo sempre de quem dirige a sala e de quem está na cozinha, o que não é sempre fácil, eu tento manter sempre a equipa motivada e que tenham orgulho de trabalhar num restaurante que é uma referência na nossa terra.

JP – …pode considerar-se o restaurante “O Pescador” uma referência na restauração nos Açores?

JC – Quando é criado o restaurante “O Pescador” havia pouco por escolher. Atualmente existe uma grande oferta com muita qualidade, mas “O Pescador” conseguiu manter o nível de qualidade e hoje em dia as pessoas que estiveram há 15 anos aqui no restaurante voltam e continuam a gostar. Passou e passam pessoas de várias áreas da sociedade, políticos, artistas, os nossos emigrantes, além do cliente mais importante que nós temos, o cliente local. É uma casa de referência e já com 35 anos temos, poucos com esta idade, mesmo a nível de ilha.

JP – O peixe no restaurante é sem dúvida o rei. Quais as especialidades do restaurante. E qual o prato que as pessoas mais pedem?

JC – Temos uma grande variedade de pratos. O nosso forte é o peixe. O peixe grelhado e os pratos que a que eu chamo de os pratos clássicos da casa que durante estes 35 anos são confecionados da mesma forma, com as cataplanas, a açorda de marisco, o arroz de marisco, as lulas à quilo (ver). São pratos que foram introduzidos na abertura do restaurante e que ainda hoje se mantêm, precisamente iguais. Já passaram por aqui vários chefes que queriam mudar o molho ou a apresentação, mas é uma coisa que não se pode alterar… é o cliente que manda e assim quer e isso também é uma referência do restaurante… é uma receita para que o cliente repita e volte ao restaurante!

O que mais pedem as pessoas é peixe grelhado, as cataplanas também… embora, também, vendemos muitos pratos de carne com destaque para os nossos bifes com diferentes molhos. Utilizamos sempre a carne melhor como a carne da vazia e o fillet tem muita procura. Mas o peixe grelhado e as cataplanas tem mais saída, destacando-se o atum, o espadarte e o boca negra.

Procuramos sempre o peixe mais fresco. Eu próprio vou à lota ou ao fornecedor local conseguindo assim o peixe mais fresco.

JP – Uma outra questão é a associação do conhecido humorista e apresentador do Preço Certo, Fernando Mendes ao restaurante. Como é que surge esta parceria?

JC – O Fernando Mendes é um amigo que tenho há mais 30 anos e é uma pessoa que tem muito carinho pelo “O Pescador” e que fala e dá a cara por esta casa… a amizade que nós temos “não tem preço” e agradecemos esta associação ao restaurante. É uma figura conhecida no nosso país e nos estrangeiros e agradecemos e a amizade que ele tem por esta casa. Só lhe tenho a agradecer!

JP – O José Costa é, sem dúvida, um empresário que trouxe muito desenvolvimento para a Praia da Vitória. Quais os projetos que tem para o futuro?

JC – Bem, já fiz muita coisa. Já tive várias empresas, anos que correram melhor outros que correram pior. Dentro das minhas possibilidades, fiz o que pude pela Praia.

Agora, o futuro é que me interessa. O presente e o futuro passam por estabilizar esta casa, que tenho muito gosto em mantê-la com a mesma qualidade e o mesmo serviço e procurar uma pessoa que me suceda porque já estou a chegar a uma idade que quero descansar… neste momento, estou como as pessoas que venderam-me este restaurante que durante dois anos procuraram uma pessoa a quem pudessem deixar e sabiam que manteria a essência do “O Pescador” e que não ficasse nas mãos de uma qualquer pessoa. Acho que a história e o nome do restaurante “O Pescador” não se constrói facilmente, porque são 35 anos de trabalho duro fruto das pessoas que por aqui passaram… essa procura será junto de um familiar, de uma pessoa que tenha gosto pela restauração.

É uma área muito difícil, que requer muito trabalho e cada vez mais escasseiam os recursos humanos que tem de ser acarinhados e valorizados e, só quem trabalha nesta área, entende. Quem me suceder tem de ser alguém que goste de restauração e que mantenha “O Pescador”.