Definir “cultura” com total exactidão deve ser impossível. Além da palavra ter diversos significados, em alguns deles não há definição linear. No âmbito que aqui nos iremos referir, também existem diversas definições, como a do dicionário online Priberam, que a descreve como a “Totalidade dos costumes, das tradições, das crenças, dos padrões morais, das manifestações artísticas e intelectuais e de outras características que distinguem uma sociedade ou grupo social”. Neste enquadramento, falamos cultura de um povo, no nosso caso, a cultura Açoriana.
Como facilmente se percebe definir a cultura de um povo é tarefa ingrata, não pela missão em si, mas pela magnitude da mesma. Será possível definir um povo? Identificar todas as suas características? Não nos parece… Na própria definição apresentada, a utilização da expressão “e de outras” vinca o caracter infinito da definição. Voltaremos ao infinito.
Humildes ilhéus, somos um povo que tem a felicidade de viver numa terra com fortíssimas tradições e crenças, como o culto do Divino Espírito Santo, o Carnaval e a Tauromaquia. Estas são apenas algumas das características que nos definem culturalmente, e que todos temos de ajudar a preservar. A protecção das danças de carnaval, das filarmónicas, dos Impérios, das tertúlias, dos grupos folclóricos, dos artistas, entre muitos outros, é vital à nossa sobrevivência cultural, à conservação da “Açorianidade”, assim (d)escrita, pela primeira vez, pelo ilustre Praiense Vitorino Nemésio.
Entre os tais “muitos outros”, Jornal da Praia, com os seus quase 40 anos de vida, sente-se aí enquadrado, como parte da cultura Praiense e Açoriana. Por isso tem de aproveitar a oportunidade de, neste mês de eleições, deixar uma pergunta e um desejo aos candidatos (até porque não foi ouvido por nenhum). A pergunta: Qual o valor da cultura? O desejo: Apoiem mais os agentes culturais. Pois quando tudo perecer, quando muito tempo passar, em novas eras, o que de nós fica, se os vulcões deixarem, é a cultura que deixarmos.
Infelizmente a cultura também inclui coisas más, como a falta de “cultura” democrática, que nestas ilhas se tem vivido, segundo consta, desde da instalação do regime democrático em 1974. Um forte exemplo é a falta de tolerância a opiniões contrárias, as pressões e até ameaças a opositores (ou calas-te ou não arranjas emprego, não vendes para o estado, não aprovamos os teus projectos, etc.). Caros conterrâneos! Uma das coisas boas da democracia, é, precisamente, podermos ter o prazer de discordar!
Caros leitores, este ano, nestas eleições autárquicas, não deixem de ir votar. É outra característica essencial da cultura democrática. Não votar é permitir que outros ditem o nosso futuro. Pior, no actual regime, as altas percentagens de abstenção (até acima dos 50%) significa que uma minoria da população manda na maioria, impondo os seus ideais a todos. Um belo exemplar é o PAN que, à força da proibição, quer mudar a nossa cultura, por exemplo, banindo a tauromaquia e impondo regimes vegetarianos. Vão votar, votem em quem quiserem, mas votem.
Boa sorte às candidaturas, e ganhe quem ganhe, que o faça com dignidade e respeito pelos outros, sabendo estar e agir à altura do que merecem os Açoreanos, em especial os Praienses. A Praia da Vitória precisa desesperadamente de políticos que a defendam sem medo, e, sobretudo, sem pôr à frente as suas agendas pessoais e partidárias. Esperamos ainda andar por cá para discutir os resultados.
Terminamos voltando ao início e ao infinito. A cultura de um povo é algo imensurável, não palpável, até metafisico. Não se mede, não se define, não se vê, mas de algum modo, sente-se, vibra-se, e, por vezes, de forma viciante e, quase sempre, apaixonante. Se precisarem de provas basta relembrar a forma espontânea e vibrante com que o nosso povo participa no espetáculo de teatro popular que é o nosso Carnaval. Jornal da Praia despede-se com o sincero desejo que em 2022 possamos todos, cada um à sua maneira, viver a magia do Carnaval Terceirense. Aquele Abraço Praiense!
Luis Moniz, Diretor Adjunto