Jornal da Praia (JP) - Nasceu no seio de uma família que se dedicou ao longo dos anos à fotografia na Praia da Vitória, na ilha Terceira. A Foto Iris é um marco histórico na Praia da Vitória! Como é que surge o gosto pela fotografia?
João Costa (JC) - O gosto pela fotografia “nasce ainda no ventre da minha mãe”. Os meus pais, Armando e Anaisa Costa, tinham a firma Foto Iris, que ainda hoje existe com a continuação dos filhos Fausto, eu e o José e das noras Isabel e Lúcia. Desde muito cedo fomos acompanhando os nossos pais em serviços de reportagem e começamos a tomar o gosto pela fotografia ao ponto de em Agosto de 1972 (há precisamente 50 anos) começarmos a fazer serviços profissionais ainda em tenra idade, o Carlos, o Fausto e eu com 16, 15 e 14 anos de idade respetivamente. Mais tarde também o José e o Rogério seguiram o mesmo caminho. A minha irmã Filomena foi a única que não foi fotógrafa e foi residir para o Canadá no início dos anos 80.
De todos os irmãos eu fui o único que se dedicou exclusivamente a fotógrafo.
JP - Este ano, o João Costa, comemora 50 anos como fotógrafo. Que balanço faz da sua carreira?
JC - São 50 anos a fazer aquilo que mais adoro que é fotografar no estúdio, nas escolas, nas festas profanas, nas touradas, nos casamentos, batizados e todas as restantes fastas religiosas e todos os serviços que sou solicitado para fotografar. Não é fácil ser fotógrafo profissional, porque não temos horário, nem fins-de-semana nem férias programadas, porque nunca sabemos se no dia de amanhã aparece um serviço.
Também não foi fácil criar 4 filhos (Rui, Paulo, Ricardo e Vítor) com esta profissão e hoje com 4 netos revejo o passado com os meus filhos.
JP - Que tipo de fotografia mais gosta de fazer? Reportagens, de estúdio…
JC - Como fotógrafo profissional e vivendo numa ilha não podemos ter só o gosto por um certo tema e por isso somos obrigados a ter o gosto e fotografar tudo o que nos é pedido. No entanto dentro de todos os temas que fotografo o que me dá mais prazer e que para mim é uma referência, além dos casamentos é sem dúvida fotografar as crianças nas escolas, serviço que faço há 42 anos. Fotografar estas crianças é algo de espetacular e sinto uma alegria muito grande porque quer seja na ilha Terceira, nas Flores ou no Corvo, ilhas que fotografo as escolas, todas as crianças conhecem o “Jonhy”, nome pelo qual sou conhecido nas escolas.
JP – Existe alguma história que o marcou na sua carreira?
JC - A primeira reportagem de casamento que fiz, foi em Agosto de 1972 na freguesia da Agualva e tinha apenas 14 anos de idade, metro e meio de altura ou nem tanto. Quando entrei em casa do noivo e depois em casa da noiva, para tirar as fotos de solteiros não fui bem recebido e hoje compreendo que quando viram um “puto” com uma máquina devem ter pensado “estão a brincar connosco mandando este meia bola fotografar o nosso casamento”.
Fui forte, suportei tudo o que me diziam, estavam mal-encarados, mas esta era a profissão que sonhava. Logicamente que com esta idade não conduzia e quando o meu pai me foi buscar, entrei no carro e comecei a chorar, dizendo que nunca mais queria ser fotógrafo.
O meu pai não gostou da maneira como disse que me tinham tratado, disse-me para ter calma, fomos para o laboratório revelar os rolos e imprimir as fotos um processo que foi até às 23 horas. Reportagem pronta o meu pai foi comigo … interromper a “lua-de-mel” … e entregamos aos noivos a reportagem ficando eles espantados porque nessa altura levávamos mais ou menos 5 dias para entregar a reportagem.
Meu pai explicou a razão de estar ali naquela hora a entregar as fotos e os noivos depois de verem como o serviço estava muito bom, pediram-me muitas desculpas, abraçaram-me e elogiaram-me muito. Depois deste momento, esqueci tudo e abracei a fotografia até aos dias de hoje e espero por muitos mais anos.
Um dos momentos que mais me marcou foi o Terramoto de 1980 que fotografei casa a casa e foi também na década de 90 que conheci um saudoso amigo francês Serge Vilallele, na ilha do Pico que me incutiu o gosto pelo “Wale Watching” e não posso deixar este momento para dizer “Obrigado Serge” porque se não fosse ele não apresentava no dia 28 de Julho a exposição de fotos de cachalotes no Etis aqui na Praia da Vitória, que estará em exposição durante as Festas da Praia da Vitória.
JP - António Quadros (primeira metade do século XX) ou Anaísa Costa (primeira fotógrafa profissional na ilha Terceira, iniciou em 1963), foram alguns dos fotógrafos percursores da fotografia na Praia da Vitória. O João Costa atravessou a revolução da fotografia com o analógico e agora com o digital, atualmente como vê a fotografia e a profissão de fotógrafo?
JC - Na era do analógico tinhas de saber ser fotógrafo, tudo era diferente desde o fotografar ao revelar. Hoje quem tem um telemóvel é fotógrafo e quem tem uma pequena máquina digital é fotógrafo. Hoje apontas a máquina ou o telemóvel e automaticamente estes aparelhos fazem a leitura das condições existentes e faz uma fotografia perfeita. Antes, na altura dos rolos fotográficos, tínhamos de olhar para o objeto ou pessoas a ser fotografado, ver as condições de luz, a cor dos tetos das casas, a distancia a que estavas entre outras coisas e sabias qual a abertura da lente e qual a intensidade de luz do flash para a foto ficar boa, porque não havia ecrã nas máquinas para veres antes de fotografar.
JP – Projetos para o futuro?
JC - Espero continuar mais uns anitos com esta profissão, mas depois de tudo o que já passei ao longo destes 50 anos de fotógrafo, o único projeto de futuro que tenho é a “reforma” e gozá-la ao máximo.
Entrevista: Rui Marques
Foto: Foto Íris
