Caros leitores, Jornal da Praia vem fazer uma breve reflexão sobre o futebol na ilha Terceira, nomeadamente sobre a formação dos nossos jogadores, desde crianças a seniores. Ainda que este quinzenário ilhéu não seja um jornal desportivo, nem tenha os conhecimentos e dados necessários para fazer uma análise profunda sobre o tema, gostaríamos de deixar algumas considerações.
Para enquadramento, é um facto que apesar do poderio financeiro de outras paragens, Portugal tem conseguido obter excelentes resultados desportivos no futebol masculino, e, especificamente, na seleção A. Os principais clubes Portugueses, em especial os 3 grandes, têm sido verdadeiras fábricas de talento onde se desenvolveram jogadores de classe mundial, desde o melhor do mundo Cristiano Ronaldo (pode não ser o mais talentoso, mas é o melhor!), ao Bernardo Silva, Ruben Dias, Diogo Costa, etc. A quantidade de jogadores Portugueses com qualidade é excelente, especialmente para um país com a nossa dimensão e população. Mas e na nossa ilha Terceira de Jesus Cristo?
Também a Terceira teve alguns prodígios da sua formação de futebol que atingiram outros patamares, desde o Eliseu (ainda que tenha escolhido mal o clube em Portugal), um Açoriano campeão europeu, o guarda-redes internacional pelas camadas jovens Sérgio Dutra, ao recente reforço do Sporting Laurindo Jr.. Então está tudo bem cá na ilha? Na nossa visão não.
Nos últimos anos, os campeonatos da ilha Terceira de juniores A, B e C tem andado abaixo da meia dúzia de equipas chegando inclusive a ter apenas 2 clubes de juniores A ou B! Para se ter uma perspectiva melhor, e sem desprimor pelas ilhas com menor população, como é possível a Graciosa ou São Jorge terem tantas equipas de juniores como a Terceira?! Nos campeonatos seniores a situação ainda é pior. A Terceira tem apenas três equipas e com a potencial subida do Juventude Desportiva Lajense, ficam apenas a equipa B do Lusitânia e os “Leões”. Haverá campeonato?
Mas como é isto possível com tanta aposta na formação? A verdade é que existem fortes projectos de formação nomeadamente no SC Lusitânia, SC Praiense, SC Angrense e JD Lajense. Por outro lado, também é verdade que o número de equipas vai diminuindo à medida que as idades vão subindo, desde as escolinhas aos seniores. É urgente refletir sobre as causas deste fenómeno de modo a tentar corrigir esta tendência de desaparecimento do chamado “desporto-rei”.
Aproveitamos também a oportunidade para fazer alguns reparos, em especial aos dirigentes, treinadores, pais e adeptos em geral. Não basta dizer que são fãs da formação, que “o que importa é a formação e não os resultados”, e depois irem para o campo pressionar os miúdos jogadores das equipas adversárias, os seus treinadores, dirigentes e adeptos. Não podem ter treinadores a “mandar bocas” para fora do campo, nem pais a chamar nomes inapropriados aos jovens jogadores, dirigentes no banco a destabilizar os jogadores adversários, muito menos a desrespeitar e pressionar o árbitro. Entre outras atitudes testemunhadas por este jornal, estas são seguramente censuráveis, e dão um péssimo exemplo de comportamento, não só desportivo, mas especialmente humano.
A bem do futebol, dos tempos de campeonatos a duas séries, da formação de seres humanos e potenciais futuros dirigentes, decidam o que é mais importante, ter quatro equipas a dominar a formação, a dar goleadas de dez a zero, quinze a zero, vinte a zero a todas as outras, ser campeão a qualquer custo, a desviar miúdos das outras equipas, freguesias e concelhos, a ameaçar árbitros (que por sinal também já escasseiam), ou tentar mudar o panorama e aceitar que não pode valer tudo.
Não sabemos o que será mais importante, saber perder ou saber ganhar, por isso o ideal é que todos aprendam ambos, pois tão certo quanto a morte, é que pela vida fora todos nós ganhamos, mas também perdemos. Há que aceitar que os prodígios aparecem apenas em algumas gerações, mas que uma boa formação ensina uma equipa inteira, que se tornarão os cidadãos de amanhã. É que até as estrelas também tombam, mas um atleta bem formado tem as ferramentas para se levantar…
Por último, pedimos-vos para que na próxima vez que forem ao futebol, se lembrem de refletir antes de terem qualquer atitude, se gostavam que o dissessem ou fizessem aos vossos filhos. Apoiem a vossa equipa, respeitem o adversário, pois nem na guerra pode valer tudo! Aquele Abraço Praiense!
Luis Moniz, Diretor Adjunto